A propagação de uma onda eletromagnética plana num dado meio poder ser apresentada, sob perspectiva teórica, a partir de uma equação de onda derivada das equações de Maxwell. Em muitos meios (ditos isotrópicos) a velocidade da luz independe da direção de propagação e de seu estado de polarização, e neste caso a constante dielétrica é uma grandeza escalar. Em outros meios (ditos anisotrópicos ou birefringentes), a velocidade da luz pode depender tanto de sua direção de propagação quanto de seu estado de polarização e, neste caso, a constante dielétrica é caracterizada como um tensor. Em certas condições, este tensor é suficientemente descrito por três valores, associados a três eixos ortogonais. Tais valores definem um elipsóide (elipsóide de Fresnel), cuja superfície determina o índice de refração da luz para a propagação segundo uma dada direção, e com um dado estado de polarização[1].
Quando uma luz coerente incide sobre um cristal birrefringente, a luz transmitida apresenta um estado de polarização (em geral, polarização elípica) dependente da direção do feixe incidente. Este resultado deu origem à técnica inteferometria conoscópica[2,3], através da qual as propriedades ópticas de um cristal anisotrópico (em particular, seus eixos ópicos) podem ser identificadas analizando-se as variações no padrão de interferência produzido (numa tela) pelo feixe emergente, em função do ângulo de incidência. O termo "conoscopia" vem do fato de que, comumente, no arranjo pertinente, os feixes de luz incidente e transmitidos são cônicos. O artigo de P. Ayras et al[3] apresenta uma descrição básica da técnica, bem como os fundamentos físicos da mesma.
As superfícies dos modelos aqui ilustrados, chamadas superfícies de Bertin, estão conceitualmente relacionadas com tal técnica, e são lugares geométricos para uma diferença de fase constante entre dois feixes de luz, que se propagam num meio birrefringente, com estados de polarização mutuamente ortogonais. Bertin foi o primeiro a apresentar (em 1861[4]) um tratamento matemático deste tópico, cuja discussão pode também ser encontrada, numa forma mais detalhada e didática, no texto historicamente importante de L. Duparc and F. Pierce[5].